Resenha: Lugar Feliz

“Quero qualquer universo, menos esse. Todo o resto, onde somos ele e eu dispersos no tempo e no espaço, sempre encontrando o caminho um para o outro, a única constante, a única essência.”

Harriet e Wyn, um casal admirado desde a faculdade, se separaram há cinco meses, mas ainda não revelaram isso aos amigos mais próximos. Mesmo assim, continuam dividindo o maior quarto da casa no Maine, onde o grupo passa férias há uma década, aproveitando uma semana de descontração anual.

Este ano, porém, eles estão fingindo estar juntos para não arruinar as férias, já que a casa está à venda e esta será a última semana no local. Apesar de ainda se desejarem, Harriet mantém sua postura de médica-residente dedicada e Wyn, seu jeito charmoso e despreocupado, acreditando que podem manter a fachada por mais uma semana.

No início do livro, achei a leitura um pouco lenta e cansativa. No entanto, à medida que o enredo central se revela, a leitura se torna mais envolvente e acaba proporcionando uma experiência incrível.

Embora existam muitos livros que abordam viagens em casal, com a família ou amigos, este se destaca por tratar o tema de uma maneira diferente, com camadas bem trabalhadas e assuntos importantes e necessários. O foco principal está nas relações, aprofundando-se nas amizades, relacionamentos amorosos e familiares, e como isso pode mudar com o passar do tempo.

Acabei me apegando muito aos personagens e à forma como suas vidas são retratadas. Adoro a amizade entre os seis, que permanece forte mesmo com os relacionamentos amorosos no grupo. Sabrina é o grande elo que une todos; sabe aquele amigo que sempre tenta reunir todo mundo? É ela. Embora seja um personagem bastante espalhafatoso, não é possível sentir um pingo de repulsa, já que, sem ela, não haveria todo o clímax da história.

Sobre Harriet e Wyn, a construção dos personagens, tanto individualmente quanto como casal, é muito bem feita. A autora conseguiu abordar um tema comum em romances e dar a ele um tom diferente. Neste livro, o casal se separa por motivos reais, decorrentes de acontecimentos cotidianos e comportamentos que muitas vezes praticamos sem perceber, o que pode causar desencontros devido à falta de comunicação.

Maine acaba se tornando um lar não apenas para os personagens da trama, mas também para o leitor. A ambientação é tranquila e acolhedora, criando a estranha sensação de já ter visitado a cidade e conhecido todos os cômodos do chalé à venda.

Acredito que a autora utilizou a definição de “lugar feliz” como uma forma de provocar reflexão no leitor sobre sua própria vida. Ela nos convida a pensar sobre como interagimos com nossa família e como eles interagem conosco, a importância de manter e nutrir amizades ao longo do tempo e o que fazemos por elas. Além disso, o livro nos leva a refletir sobre como lidamos com os “problemas” nos relacionamentos amorosos, destacando a necessidade de comunicação aberta, exposição dos sentimentos e a disposição para amar, respeitar e compreender o outro plenamente.

“Lugar Feliz” é um livro para todos, que se encaixa em diferentes momentos da vida adulta de cada um. É uma leitura linda, muito reflexiva e cheia de declarações, tratando tudo com muita delicadeza e nos lembrando de que, às vezes, para sermos felizes, basta mudarmos a rota.